sexta-feira, 28 de setembro de 2007

200 ANOS DE IMPRENSA NO BRASIL: TEMPO DE REFLEXÃO

O Ciclo de Conferências A Imprensa discute a Imprensa marca o início das comemorações dos 200 anos da Imprensa Nacional e se estenderá ao longo do próximo ano. Trata-se de um momento histórico, necessário, oportuno, para pensar a mídia. Em 13 de maio de 2008, a Imprensa Nacional (criada com o nome de Impressão Régia) completa o seu bicentenário. Foi no contexto da criação do Órgão, há 200 anos, que nasceu também a imprensa brasileira. E, em duas outras datas de 1808, nascia o jornalismo brasileiro, com o Correio Braziliense (1º de junho) e a Gazeta do Rio de Janeiro – primeiro jornal impresso no Brasil, em 10 de setembro. A partir daquele ano, intensificava-se a circulação de idéias e informações no país, gerando uma aurora civilizatória por meio de jornais e de uma intensa produção de livros (na Impressão Régia).

A Imprensa Nacional, reunindo grandes nomes do Jornalismo e das Ciências da Comunicação (universo das redações e da academia), historiadores e outros pensadores nacionais e do Exterior, oferece à cultura brasileira, assim, a partir deste ano, uma rara oportunidade de buscar um pensamento novo a respeito das perplexidades da mídia ante a pressão diária das novas tecnologias de informação. Oportunidade também para mergulhar na história de nossa imprensa. Afinal, como disse Machado de Assis, é necessário “aprender a parte do presente que há no passado.”

Parte da mídia, a impressa, vive um momento de perplexidade. “A transformação pela qual o jornalismo passa é histórica, tão importante quando a invenção da televisão ou do telégrafo, talvez tanto quanto a invenção do processo de impressão em si”, diz o estudo mais sério, amplo e recente sobre o jornalismo dos Estados Unidos. “O Estado da Mídia – 2007” é um levantamento rigoroso em 160 mil palavras, produzido pelo Projeto para a Excelência no Jornalismo, de Washington. A circulação de jornais cai nos Estados Unidos. A capa da prestigiosa publicação The Economist (em papel) fez esta pergunta no dia 26 de agosto do ano passado: “Quem matou os jornais?”. Lembremos que o jornal já venceu outras guerras e tem 402 anos de idade. Está em busca de um novo modelo.

Os conferencistas, já a partir do evento deste dia 1º de outubro, vão intervir profundamente no tema da crise da mídia, de forma que o Ciclo de Conferências produza conteúdos consistentes de diagnóstico que apontem saídas para os impasses que são de vários matizes. Pontos como estes serão tocados com bisturi: novas tecnologias-novas mídias, webjornalismo (podcasts, blogs, o repórter-com-câmara-de-vídeo etc), queda de credibilidade, jornalismo-cidadão, convergência digital, durabilidade dos suportes, jornais locais e regionais, replicagem de conteúdos produzidos pela mídia tradicional, jornais gratuitos, ética, denuncismo, Habermas e o seu conceito de nova esfera pública, sensacionalismo, manipulação, comunicação brasileira – equilíbrio entre os sistemas privado, público e estatal, criação da TV Pública no Brasil, Sistema Brasileiro de TV Digital, jornalismo literário e qualidade jornalística.

O ciclo que agora começa vai lançar luzes num cenário marcado por perplexidades, euforia e ceticismo. As conferências e os debates são muito necessários, pois a imprensa é os olhos da sociedade – ou, como disse o poeta inglês John Milton: “A imprensa é a luz da liberdade.”

Boas-vindas e bom ciclo a todos – conferencistas, jornalistas, estudantes, professores universitários e demais interessados nessa candente temática.


Curadores José Bernardes e Helenilda Lima

COMISSÃO INTERNA COMEMORATIVA DO BICENTENÁRIO DA IMPRENSA NACIONAL

Um comentário:

Heitor Reis disse...

Trabalhar para a Globo é Crime!


Heitor Reis (*)



"Os estudos do professor Perseu Abramo... situam o jornalismo praticado pelo mercado como um instrumento de controle político das elites, contrário aos interesses maiores do povo brasileiro."
(Hamilton Octávio Souza em "Padrões de manipulação na grande imprensa", de Perseu Abramo, pág. 17, da Editora da Fundação que leva seu nome)



Com a criação da TV Lula, ele, como bom caudilho, pretende indicar os membros do Conselho Gestor, demonstrando a distância que ainda está do estadista que pensa ser ou quer nos fazer acreditar que seja. Seguirá o mesmo caminho das TV estaduais que se dizem públicas mas são estatais e governamentais, vivendo sob o temperamento do governador de plantão.

E, começando assim, ela jamais será pública, pois, modificar a cultura organizacional que será formada entre os que ali começarem a trabalhar, criará raízes tão profundas que não as conseguiremos arrancar...

Consertar o estrago que o clima da corte palaciana determina, o favorecimento político e toda a forma de interesses escusos, fartamente documentados pela mídia, será algo praticamente impossível. Assim como o entulho autoritário de 1964 que nos persegue até hoje.

Vejam no que deu as tais Agências Reguladoras, teoricamente públicas, mas, na prática, um aparelho privatizado pelos donos do capital para explorar a classe trabalhadora e consumidora.

Mas, politica é assim mesmo. "Politiquinha brasileira" num "estado oligárquico e autoritário", como diria Marilena Chauí... Ou que o presidente é apenas o motorista da elite, na visão de João Pedro Stédile e Dom Mauro Moreli.

As práticas do PT são as mesmas do PFL, PMDB, PSDB e outras organizações criminosas legalmente constituídas: Enganar o povo para agradar aos ricos. Infelizmente não são mais as regras de sua Carta de Princípios e nem as proclamadas por Perseu Abramo, o qual não viveu o suficiente para noticiar a morte da estrela moralmente decadente que ele contribuiu para que brilhasse um dia.

Ao lançar na mídia um balão-de-ensaio, sondando a escolha da jornalista Tereza Cruvinel, da Rede Globo, para presidenta de sua TV, Lula acredita ser ela competente, praticando mais um grande eqüívoco!

A competência de cada profissional pode estar a serviço dos oprimidos ou dos opressores. Realizar um trabalho sério para os opressores é contribuir para a manutenção de sua dominação sobre os oprimidos.

Sintetizando Horacio Verbitsky e Antonio Gramsci:

Competência jornalística verdadeira é difundir o que os poderosos não querem que se saiba. O resto é tendenciosidade, propaganda, omissão ou mero diletantismo filosófico!

Lula optou pelo Sistema Globo de TV Digital e escolheu a dedo com quem quer andar: Hélio Costa, Franklin Martins e Tereza Cruvinel. Fundamentar uma decisão na hipótese de que trabalhar na Globo implica em competência, é jogar no lixo tudo que Perseu Abramo defendeu:
"Não se deixem deslumbrar pelas técnicas e pelas novas tecnologias. Elas de nada valem, se não forem utilizadas com profundo sentido ético e com a visão clara de que a imensa maioria da sociedade, em todos os países, ainda luta para libertar-se da exploração, da opressão, da desigualdade e da injustiça." (Perseu Abramo, na PUC-SP, dezembro de 1995, citado por José Arbex Jr, em obra citada)

O PSOL, através de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) junto ao Supremo Tribunal Federal, está contribuindo, para explicitar, ainda mais, o despotismo do Executivo Federal, que governa por decretos e Medidas Provisórias, seguindo o mesmo estilo da Ditadura Militar e de FHC, tentando nos fazer engolir, à força, o ultrapassado Sistema Globo de TV Digital, importado do Japão, enquanto temos um, brasileiro, muito melhor.
"No conceito de partido ideológico [de Gramsci] são agrupados os aparelhos e organizações da sociedade civil, tais como, a imprensa, as editoras, as igrejas, as associações culturais, acadêmicas, profissionais ou comunitárias, as escolas privadas e públicas, sindicatos dentre outras. As entidades da sociedade civil que contribuem para a veiculação de uma concepção orgânica de mundo, como as analisadas nesta pesquisa, se constituem em partidos ideológicos."
[ Andréia Ferreira da Silva - UFG - www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt08/gt08327int.rtf. ]

A grande mídia funciona como um partido, concordando com José Arbex Jr. na introdução da obra citada, pág. 8. O grande e saudoso Leonel Brizola, demonstrando seu conhecimento da obra de Antonio Gramsci sobre os partidos, ou por sua observação acurada, defendia:

“A TV Globo é o maior partido político do Brasil e deveria pedir seu registro como PRG - Partido da Rede Globo.” (Jornal do Brasil, 19/06/1989)

E prometia, o nosso Hugo Chávez nacional:

“Na primeira hora do primeiro dia do meu governo, vou quebrar o monopólio da Globo”. (Veja, 14/06/1989)

Não é à toa que Mr. Da Silva foi vaiado, quando apareceu no enterro deste grande brasileiro... Vamos torcer por sua breve reencarnação!

"Padrões de manipulação na grande imprensa" é um livrinho básico, cujo conteúdo de umas 60 páginas é algo que não cabe dentro das mentes mentecaptas de nossos jornalistas, vendidas aos grandes empresários da comunicação ou aos interesses políticos nos três níveis do Estado. Ao que tudo indica, se o utilizam, é apenas para fazer exatamente o que condena o grande mestre...
"Os estudos do professor Perseu... situam o jornalismo praticado pelo mercado, como um instrumento de controle político das elites, contrário aos interesses maiores do povo brasileiro." (Hamilton Octávio Souza em "Padrões de manipulação na grande imprensa", de Perseu Abramo, pág. 17, da Editora da Fundação que leva seu nome)
Lei no 5.250, de 09/02/1967
CAPÍTULO III - DOS ABUSOS NO EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E INFORMAÇÃO
Art . 12. Aquêles que, através dos meios de informação e divulgação, praticarem abusos no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação ficarão sujeitos às penas desta Lei e responderão pelos prejuízos que causarem.

Ora, se a grande mídia escraviza a sociedade através da manipulação da informação e o faz, contrariando os interesses maiores do povo brasileiro, ela é, realmente uma instituição criminosa. Uma quadrilha organizada.

Portanto, caso levemos a sério este, que tem seu nome na fundação do Partido dos Trabalhadores, colaborar com a grande mídia é, sem dúvida, crime de traição ao nosso país e ao nosso povo!!! Quanto ao Lula, é também traição aos princípios de seu partido, que nortearam a escolha deste nome.

Quem trabalha para a Globo ou qualquer outra empresa de comunicação de porte, comete crime contra a ética, contra a honestidade intelectual, contra a democratização da comunicação, contra nossa luta para construir uma democracia de verdade e contra os próprios interesses nacionais.

Claro que, num país com 74 % de analfabetos e semianalfabetos, não podemos cobrar esta consciência, com a mesma intensidade, de faxineiros da empresa e de jornalistas formados e diplomados.

Mas ainda há coisa muito pior que tudo isto!... É que, de uma forma extremamente natural e doce, a quase totalidade de nossos comunicadores estão loucos para vender sua consciência, num pacto satânico com o espírito de Roberto Marinho, em troca de algumas moedas de prata, igual qualquer mercenário ou prostituta. Judas midiáticos...

Infelizmente, as escolas onde estudam e nem as entidades de classe da categoria os vacinam contra tal coisa. Todos formados e diplomados... Assim, seu título universitário se torna apenas um alvará que os permite se venderem como material de consumo nas engrenagens de um sistema maligno de concentração da riqueza que domina o planeta.

Há um excelente texto sobre a "prenstituição", tendo os EUA como foco, mas vale como referência para a mídia nacional:
http://www.ielusc.br/~borges/base2003/mod_doc.php?id=0160

O testamento político de Aloysio Biondi, "Pela Culatra", também pode servir para reflexão, nos abrindo os olhos e ouvidos, neste momento de trevas deontológicas (éticas, para os íntimos) pelo qual passamos, a Idade Mídia:
http://www.vermelho.org.br/museu/classe/Classe191/191na.htm#not01.


(*) Heitor Reis é engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação. Nenhum direito autoral reservado: Esquerdos autorais ("Copyleft"). Contatos: (51) 8176 5565 - heitor@fr.fm