terça-feira, 27 de maio de 2008

Começa nova fase de exploração em Marte

Após uma viagem de dez meses e 700 milhões de quilômetros, a sonda Fênix, da Nasa, agência espacial norte-americana, pousou em segurança em Marte. E, com todos os seus instrumentos operando corretamente – incluindo os painéis solares que alimentam os dispositivos eletrônicos –, ela já começou a trabalhar, tendo enviado suas primeiras imagens do planeta.

O módulo, que pousou no pólo norte marciano às 20h53 (horário de Brasília) do domingo (25/5), tem 410 quilos. Desses, 59 quilos são de instrumentos científicos, que ajudarão a analisar detalhes da composição física, química e do clima no planeta. O tempo da missão está previsto em três meses.

As primeiras imagens enviadas mostram detalhes da superfície plana em que o veículo robotizado desceu e na qual os cientistas responsáveis pela missão esperam encontrar em seu subsolo reservas de água congelada. Serão feitas perfurações para verificar a dimensão das reservas, bem como sua composição química.

As análises também verificarão a presença ou não de alguma forma de vida – ou de ingredientes químicos necessários para tal existência – que esteja preservada no subsolo gelado.

“Vimos a falta de pedras que esperávamos. Não observamos gelo na superfície, mas achamos que ele será identificado em breve”, disse Peter Smith, da Universidade do Arizona, pesquisador principal da missão.

O pouso, apesar de tranqüilo, foi encarado com grande preocupação pelos cientistas. “Apenas cinco de nossas 11 tentativas de pousar no planeta vermelho foram bem-sucedidas”, disse Ed Weiler, administrador associado do Diretório de Missões Científicas da Nasa.

Para ele, a taxa de sucesso, apesar de baixa, é facilmente justificada. “Para a exploração do Universo, é preciso aceitar alguns riscos em troca do grande potencial de ganhos científicos”, destacou.

A Fênix usa peças de outra espaçonave, construída para ser lançada em 2001 e cuja missão foi cancelada após a perda de outra sonda, em tentativa de pouso semelhante ocorrida em 1999. Os responsáveis pela missão cancelada propuseram à Nasa, em 2002, uma nova oportunidade, que foi aceita.

A missão é dirigida por Smith, em parceria com o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa e com a Lockheed Martin. Participam dos trabalhos de pesquisa integrantes de instituições da Alemanha, Canadá, Dinamarca, Finlândia e Suíça.

Mais informações: www.nasa.gov/phoenix

Fonte: Agência Fapesp

sábado, 24 de maio de 2008

Diversas opiniões sobre opinião pública

Por Silter

De acordo com o artigo Contribuições para o conceito de opinião pública de Rubens Figueiredo e Sílvia Cervellini, pode-se dizer que não há um conceito único para opinião publica. Os próprios autores chamam atenção para a “inexistência de uma conceituação” que seja passível de ser aceita pelas várias ciências cujas interdisciplinaridades sobre o tema sejam convergente.

Em todo caso, vários autores se embrenharam nessa temática com o propósito de buscar uma maneira de objetivar um conceito sobre opinião pública. Um dos pioneiros sobre o assunto foi estadunidense Walter Pillman. Segundo o autor, o mundo é bastante complexo para que cada indivíduo, sozinho, possa aprendê-lo individualmente; e quando uma pessoa forma uma opinião sobre um assunto ela conta com informações produzidas por outros indivíduos ou meios de comunicação. Para Pillma, nunca uma experiência individual produz uma opinião com exclusividade.

Já o teórico Manin propõe que uma opinião pública deve levar em conta a pluralidade. Nessa teoria, não existe apenas uma opinião pública, mas sim várias. Dessa forma, as opiniões públicas se manifestam por meio dos meios de comunicação, dos grupos organizados, de pesquisas, reuniões sociais e em tantas outras formas em que pessoas possam se organizar para discutir sobre diversos temas.

Contudo, Manin chama atenção para um aspecto importante da opinião pública. Conforme explicação de Manin sobre Habermas (teórico de vertentes do final do século XVIII e começo do século XIX), as pesquisas de opinião medem “opiniões comuns” e não “opinião pública”. Habermas justifica que as proposições sobre opinião pública da atualidade se desvirtuaram das propostas construídas naquela época. No período que vai desde a Revolução Francesa as invasões Napoleônicas, a opinião pública era encarada como base de legitimação da democracia. Como fundamento, usavam-se métodos de deliberação racional que resultassem no interesse geral.

Habermas acha que a opinião pública na atualidade vive uma deterioração produzida pelos meios de comunicação, com base em um debate racional entre os cidadãos. Para tanto, conforme Habermas mencionado pelos articulistas, a razão para a Escola de Frankfurt deve ser o caminho da utopia emancipadora e só existe ao lado de uma “discussão pública, que não sofre restrições e que isenta de dominação, sobre a adequação e a conveniência de princípios e normas que orientem o agir à luz dos reflexos sócio-culturais... uma comunicação dessa espécie, em todos os níveis dos processos políticos e repolitizados de formação da vontade”.

As teorias propostas por Pierre Bordieu são bem mais incisivas. Para ele a opinião pública simplesmente não existe. Suas contestações se apóiam sobre três argumentos: a) os pesquisadores partem de uma premissa equivocada de que a opinião pública esteja ao alcance de qualquer indivíduo; b) o falso pressuposto de que as opiniões têm o mesmo valor; e c) Bordieu não acredita que os temas pesquisados sejam do interesso de todos e assim há, segundo o autor, uma imposição do pesquisador sobre temas que este considera importante, sem se basear no real consenso sobre o assunto.

Para tanto, em 1965, Harwood L. Childs fez uma análise sobre oito definições históricas de opinião pública e concluiu que todas se equivocavam, já que limitavam o sentido da expressão. Ao tentar solucionar a questão, Childs definiu opinião pública como “coleção de quaisquer opiniões individuais”. No entanto, a definição foi tão genérica e abrangente que aquilo proposto como a uma solução se tornou um novo problema, pois a definição não definia nada.

Um outro teórico criou um conceito bem mais realista. Para Lippmann, os cidadãos em geral não necessariamente precisam ser bem informados e interessados em temas com certo grau de complexidade. Eles não necessitam tratar de todos ou pelo menos muitos dos temas da vida pública assim como tratam de assuntos pessoais, pois existem instituições especializadas para tal atividade.

Por fim, dois aspectos mencionados pelos articulistas merecem destaque. A definição de opinião pública deve também pressupor um sujeito e um objeto específico. Quanto ao sujeito, a opinião pública deve corresponder a um grupo de pessoas com características em comum, seja da elite ou da massa, se são informados ou não, ou se a manifestação é racional ou emocional. Nesse aspecto, mesmo as opiniões das minorias devem ser levadas em conta como manifestação da opinião pública. Quanto ao objeto, o tema proposto deve ser relevante o suficiente para propor um debate público para que os participantes se posicionem a respeito daquilo que está sendo debatido.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

De quem é essa Floresta Amazônica, afinal?

De Alexei Barrionuevo (publicado no New York Times)

Pelo período que a maioria consegue se lembrar o Brasil tem olhado nervosamente para o mapa do vasto e desabitado território da floresta tropical da Amazônia.


No anos 60 e 70, os generais aqui viam a colonização da Amazônia brasileira, que tem o tamanho da metade da Europa, como uma prioridade da segurança nacional.


'Ocupar para não entregar' era o slogan de então. Estradas foram construídas, os brasileiros receberam incentivos para conquistar a terra da Amazônia e transformá-la em nome do desenvolvimento.


Havia mais por trás do nervosismo do que uma teoria conspiratória.


Mesmo então, um depósito tão vasto de riquezas mexia com a imaginação em todo o mundo. Herman Khan, o estrategista militar e futurista, promoveu a idéia de fazer um lago de água doce na Amazônia para transformá-la num centro de produção agrícola.


Agora, com o mundo de olho nas promessas da biodiversidade e nos perigos do aquecimento global, um coro de líderes internacionais declaram cada vez mais abertamente que a Amazônia é parte de um patrimônio muito maior do que o das nações que dividem o seu território. "Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é propriedade deles, pertence a todo nós", Al Gore, então senador, disse em 1989.


Tais comentários não são descartados aqui. De fato, eles reacenderam atitudes antigas de protecionismo territorial e de alerta sobre invasores estrangeiros (agora incluindo os bioinvestigadores).


O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apóia uma lei que restringiria acesso à floresta tropical, exigindo de estrangeiros e brasileiros uma licença especial para entrar nela. Autoridades brasileiras dizem que isso separaria ONGs ruins de boas e bloquearia os assim chamados "biopiratas" - aqueles que querem patentear substâncias únicas descobertas na floresta.


"A Amazônia é nossa", disse o secretário de Justiça Romeu Tuma Jr., em uma entrevista. "Queremos saber quem vai lá e o que vão fazer. É uma questão de soberania nacional."


Mas essa questão não é tão simples quanto parece. O salvador da soberania de um pode ser o destruidor da floresta de outro.


E muitos especialistas na Amazônia dizem que as restrições propostas estão em conflito com as próprias tentativas do sr. da Silva de conseguir voz nos debates sobre a mudança climática - um reconhecimento implícito de que a Amazônia é crítica para o mundo como um todo. Além disso, os críticos usam um relatório de janeiro demonstrando um aumento no desflorestamento como prova de que o governo não está cuidando bem da região.


Na semana passada, Marina Silva, uma firme defensora da preservação da floresta tropical, renunciou como ministra do meio ambiente do sr. Silva depois de uma série de derrotas em batalhas políticas com ele sobre programas de desenvolvimento.


Em um contexto global, as restrições refletem um debate maior sobre direitos soberanos versus o patrimônio mundial. Companhias internacionais, por exemplo, disputam com nações o direito de desenvolver recursos no território virgem do Ártico, num momento em que o gelo em derretimento revela vastos depósitos de petróleo e minerais em potencial. Também há uma disputa sobre quem tem o direito de dar acesso a cientistas internacionais e ambientalistas que tentam proteger tais áreas, e às companhias que querem explorá-las. É uma disputa que deve se tornar mais espinhosa nos próximos anos, em face de duas tendências conflituosas: a maior demanda por energia e a maior preocupação com a mudança climática e a poluição.


Aqui no Brasil, que detém 60% do território da Amazônia, esse novo debate é colocado em termos reconhecidos no passado - notavelmente a longa suspeita de conservadores e militares de que o verdadeiro objetivo de estrangeiros é controlar as riquezas da floresta tropical do Brasil.


A importância global da Amazônia está estabelecida. Atua como reguladora do clima, afetando diretamente os padrões de chuva no Brasil e na Argentina. Os seus ventos, de acordo com estudos recentes, podem até mesmo afetar as chuvas na Europa e na América do Norte. A queima e decomposição de árvores para desenvolvimento fazem a parte brasileira da Amazônia responsável por cerca de metade das emissões de gases estufa anuais do mundo, diz Meg Symington, diretora para a Amazônia do World Wildlife Fund nos Estados Unidos.


O temor dos brasileiros de que a Amazônia seria ocupada por ladrões estrangeiros é de pelo menos 1876, quando Sir Henry Alexander Wickham levou sementes das seringueiras do Brasil para Londres, de onde elas foram enviadas para o que hoje é a Malásia, além da África e outras regiões tropicais, acabando com o boom da boracha na Amazônia.


Desde então, houve apenas alguns casos documentados do que os brasileiros pensam ser biopirataria. A companhia farmacêutica Bristol-Myers Squibb, por exemplo, descobriu que o veneno da cobra jararaca poderia ajudar a controlar pressão alta e o usou para criar a droga Captopril. Mas, em geral, disse Thomas Lovejoy, presidente do Heinz Center, que apóia pesquisa ambiental, "biopirataria é um verdadeiro red herring". [Expressão idiomática que se refere a um peixe inexistente].


Ainda assim, o Brasil tem sido extremamente sensível para estrangeiros que fazem trabalho científico na Amazônia. Marc van Roosmalen, um primatologista nascido na Holanda e cidadão naturalizado, foi preso em 2002 e condenado a 16 anos por manter macacos em cativeiro sem a devida autorização, de acordo com jornais brasileiros. Ele está apelando da sentença.


O sr. Lovejoy e outras organizações se preocupam com o fato de que as restrições na Amazônia podem desencorajar a ciência, prejudicar o ecoturismo e proteger o Brasil de escrutínio. "O governo não está interessado em permitir que mais gente vá para a Amazônia para constatar a incompetência que demonstrou em reduzir o desflorestamento", afirmou Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil.


O sr. Tuma disse que autorizações para acesso serão dadas por autoridades da Justiça e de Defesa. Estrangeiros sem permissão ficariam sujeitos a multas de 60 mil dólares ou mais.


"Não estamos tentando criminalizar a atividade das ONGs", ele disse. "Queremos dar prestígio às ONGs sérias, aos grupos internacionais sérios que têm contribuições a fazer para o Brasil e o mundo."


Mas José Goldemberg, um ex-secretário de meio ambiente do estado de São Paulo, ecoou muitos ambientalistas ao chamar a estratégia de "paranóica", e lembrou como o Kremlin da guerra fria isolou áreas inteiras de olhos investigadores.


"Se você tentar controlar tudo, isso vai acabar como a União Soviética", ele disse."