segunda-feira, 31 de março de 2008

A quem pode interessar o "dossiê" do cartão corporativo?

Como o sr. vê denúncias de uso irregular de cartão corporativo?

Sempre tivemos cuidado de não fazer devassa contra o governo FHC. Sempre fomos cuidadosos, mesmo porque não é do nosso estilo nem do nosso interesse vasculhar o governo anterior. Também seria pouco inteligente da nossa parte, quando o País está indo bem, ficar levantando qualquer tipo de celeuma e incidente. Precisamos trabalhar e o Brasil precisa crescer. Não é a nós que interessa isso.


E a quem interessa?

Compreendo que, neste momento, a oposição está em dificuldades. É possível que amanhã não esteja. Os dados econômicos são muito bons, os dados sociais também, o governo está num ritmo acelerado de trabalho e tem um projeto. A oposição não tem projeto. É natural que ela se apegue a qualquer detalhe para transformar isso numa crise.

Qual a diferença entre dossiê e banco de dados?

Quando surgiu a matéria do Estado falando sobre irregularidades nos gastos com cartões, e depois do episódio da Matilde e do Orlando Silva, é natural que procurássemos nos organizar para buscar respostas àquelas acusações. É natural que a ministra orientasse para que houvesse uma organização interna. Quando a CPI foi aprovada, estendemos a investigação até 1998. Precisávamos estar prontos para entregar esses dados. Organizar dados não é crime nenhum, nunca. O que é errado é vazar os dados. Quero lembrar que o primeiro vazamento não foi do governo Fernando Henrique. Foi do presidente Lula.


A que o sr. se refere?

A dados que o Banco do Brasil não tomou cuidado de guardar. Os dados reservados que apareceram primeiro foram nossos. Imagine se fossem deles, naquele primeiro momento. Iriam dizer que era uma conspiração, um vazamento proposital do banco. A divulgação daqueles dados no Portal (de despesas com segurança da família do presidente) foi um erro, assim como este agora.


Como o sr. classifica o episódio?

Grave, porque houve um deliberado vazamento. Agora, quem vazou, o fez por ato absolutamente estranho porque, olhando os dados vazados, não tem nada que constranja nem que deponha contra o presidente Fernando Henrique e dona Ruth. Não há um gasto ali que crie constrangimento. São gastos típicos de um Palácio, de um brasileiro típico de classe média alta. Não tem nada que revelasse luxo, de caviar essas coisas. Então, a pessoa que fez isso (o vazamento), o fez por um ato absolutamente reprovável e vai ter de pagar pelo que fez.


E qual foi a reação do presidente?

O presidente Lula, desde o primeiro momento, deu a nós a mesma ordem dada nas crises antigas: vamos trabalhar. A ordem é dar o mínimo de importância para este fato e dar as respostas que a instituição (CPI) e o Congresso demandam. A CPI vai continuar o trabalho dela e o Congresso, também. São bolhas de espuma, acontecem e depois murcham.A montagem do banco de dados foi decisão da ministra Dilma, do presidente ou do governo? Evidente que não foi do presidente. Ele nem estava sabendo porque nem precisava ficar cuidando disso. Eu posso dizer que foi uma decisão de governo, sim. E decisões de governo nem sempre são tomadas no mais alto nível. Esta foi tomada na instância que era própria: a Casa Civil.


E quem é o alvo do dossiê?

É claro que se trata de buscar atingir a ministra Dilma, porque ela passou a representar, na cabeça de muita gente, uma alternativa de governo. Como sempre acontece nestes casos, ela virou a bola da vez.Expor a ministra como pré-candidata à sucessão do presidente Lula não foi um erro do Planalto?O problema é que ela é coordenadora do PAC. Dizer que a ministra é candidata não favorece. A nós, mais do que a ninguém, não interessa antecipar a luta eleitoral.

O sr. acha que o autor do vazamento é tucano ou um aloprado do PT?

Você há de convir que eu seria absolutamente leviano se desse qualquer palpite. A comissão de sindicância está trabalhando e eu não posso avançar. O que eu pergunto é a quem interessa esse tipo de coisa. Não quero dizer que foi o PSDB ou o DEM. Apenas que a nós não interessa.

segunda-feira, 24 de março de 2008

O sal de Marte

Depois de sinais de água, é a vez do sal. Com a ajuda de instrumentos a bordo da sonda Mars Odyssey, um grupo de cientistas nos Estados Unidos identificou a primeira evidência de depósitos de cloretos minerais na superfície de Marte.


O estudo teve seus resultados publicados na edição de 21 de março da revista Science. As evidências de sais foram identificadas em depósitos indicativos de que água foi abundante no passado no planeta.


Segundo os autores da pesquisa, a descoberta, feita em algumas das mais antigas regiões de Marte, também poderá ajudar a fornecer evidências de que um dia o planeta abrigou formas de vida.


Na Terra, sais são formados, por exemplo, pela evaporação de corpos de água ou quando gás escapa de vulcões. Tais processos provavelmente ocorreram há bilhões de anos em Marte, mas até agora os cientistas estavam intrigados pela ausência de depósitos de sais indentificáveis no planeta.


Os cientistas, liderados por Mikki Osterloo, da Universidade do Havaí, usaram dados obtidos pelo instrumento Themis, que produz imagens a partir da emissão termal, localizado na Mars Odyssey, veículo lançado em 2001 em órbita do Planeta Vermelho. Em comprimentos de onda na região de infravermelho, o Themis é capaz de registrar detalhes na superfície com resolução de cerca de 100 metros.


Foram identificados cerca de 200 locais diferentes no hemisfério sul marciano com características espectrais consistentes com minerais à base de cloro. Esses depósitos de sal estão principalmente em latitudes médias e baixas por todo o planeta, em terrenos antigos e cheios de crateras.


A composição exata dos minerais é desconhecida, mas os pesquisadores afirmam que a distribuição e aparência dos depósitos são consistentes com a formação por meio da evaporação. Ou seja, mais um indicador de que Marte um dia teve água.


O artigo Chloride-bearing materials in the southern highlands of Mars , de Mikki Osterloo e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

Fonte: Agência Fapesp

segunda-feira, 17 de março de 2008

Os Heróis brasileiros e os heróis da Rede Globo


Por Carlos Augusto Lordelo Almeida*

Digníssimo Jornalista, apresentador da Rede Globo de Televisão. Confesso Sr.Bial que não sou espectador do programa o qual o senhor apresenta. Talvez para felicidade da minha cultura e para infelicidade do índice de audiência, ao qual seu programa está atrelado. Mas, tive durante um dia desses, num dos raros casos fortuitos que o destino apresenta, a oportunidade de, por alguns minutos, apreciar o tão falado Big Brother Brasil, o BBB.
Para minha surpresa, durante uma ou duas vezes o senhor, ao chamar os participantes para aparecerem no vídeo o fez da seguinte maneira:

- Vamos agora falar com nossos heróis!

De imediato tive uma surpresa que me fez trepidar na cadeira.
Heróis?

O senhor chama aqueles que passam alguns dias aboletados numa confortável casa, participando de festas, alguns participando até de sessões de sexo sob os edredons, falando palavras chulas e no fim podendo ganhar um milhão de reais, de heróis?

Pois bem Sr. Pedro Bial, eu trabalho numa Plataforma Marítima que se localiza a aproximadamente 180 km da costa brasileira e contribuimos, mesmo modestamente, para que o nosso País alcançasse a auto-suficiência em Petróleo e continuamos lutando, todos nós, para superar esse patamar.

Neste último dia 26 de Fevereiro presenciamos um acidente com um dos Helicópteros que faz nosso transporte entre a cidade de Campos e a Plataforma. As imagens que ficaram em nossa mente Sr. Bial, irão nos marcar para o resto das nossas vidas. Os seus "heróis" Sr Bial, são meros coadjuvantes de filmes de segunda categoria comparados com os atos de heroísmos que presenciamos naquele momento.

Certamente o Senhor como Jornalista que é, deve estar a par de todo o acontecido. Mas sei que os detalhes o Sr. desconhece.

Pois bem, perdemos alguns colegas. Colegas esses, Sr Bial, que estavam indo para casa após haver trabalhado 15 dias em regime de confinamento. Não o confinamento a que estão sujeitos os seus "heróis", pois eles têm toda uma parafernália de conforto, segurança e bem estar, que difere um pouco da nossa realidade. Durante esse período de quinze dias esses colegas falaram com a família apenas por telefone. Não tiveram oportunidade de abraçar seus filhos, de beijar suas esposas, de rever seus amigos e parentes... Logo após decolar desta Plataforma com destino a suas casas o Helicóptero caiu no mar ceifando suas vidas de modo trágico e desesperador. E seus "heróis" Sr Bial, a que tipo de risco eles estão expostos? Talvez aos paredões das terças-feiras, a rejeição do público, a não ganhar o premio milionário ou a não virar a celebridade da próxima novela das oito.

Os heróis daqui Sr Bial foram aqueles que desceram num bote de resgate, mesmo com o mar apresentando um suel desafiador. Nossos heróis Sr. Bial desceram numa baleeira, nossos heróis foram os mergulhadores, que de pronto se colocaram à disposição para ajudar, mesmo que isso colocasse suas vidas em risco. Nossos heróis Sr. Bial, não concorrem ao Premio de um Milhão de reais, não aparecem na mídia, nem mesmo os nomes deles são divulgados. Mas são heróis na verdadeira acepção da palavra. São de carne e osso e não meros personagens manipulados pelos índices de audiência. Nossos heróis convivem aqui no dia-a-dia, sem câmeras, sem aparecerem no Faustão ou no Jô Soares.

Heróis, Sr Bial são todos aqueles que diariamente, saem das suas casas, nas diversas cidades brasileiras, chegam à Macaé ou Campos e embarcam com destino as Plataformas Marítimas, sem saber se regressarão as suas casas, se ainda verão seus familiares, ou voltarão ilesos, pois tudo pode acontecer: numa curva da estrada, num acidente de Helicóptero, no vôo comercial de regresso a sua cidade de origem...

Não tenho autoridade suficiente para convidá-lo a conhecer nosso local de trabalho e conseqüentemente esses nossos heróis, mas posso lhe garantir Senhor Bial, que caso o Sr estivesse presente nesta plataforma durante aquele fatídico acidente seu conceito de herói certamente seria outro.

Em memória dos colegas:
Durval Barros, Adinoelson Gomes e Guaraci Soares


*Carlos Augusto Lordelo Almeida é técnico de segurança da Plataforma P-XVIII

quarta-feira, 12 de março de 2008

Telejornalismo em close: procura-se um chinês

Por Paulo José Cunha*

No princípio era o verbo. Isso até aparecer aquele chinês com a história de que uma imagem vale mais que mil palavras. Gostaria muito de me encontrar com ele para pedir satisfações. Sim, porque a partir dessa premissa que pretendeu justificar o primado da imagem sobre o texto, o conceito de informação não foi mais o mesmo. A mídia, pela via do entretenimento, deixou que a imagem se achasse a dona do pedaço. E em nome do primado da imagem, todos os pecados passaram a ser cometidos. Inclusive o dos textos indigentes, primários, óbvios, sem brilho, sem cor.

O avanço tecnológico dos meios audiovisuais empurrou a imprensa escrita para um formato que privilegia o olho, a sedução da imagem. Os jornais estão ficando cada vez mais parecidos com a TV. On-line, então, é igualzim. E pensar que tudo isso começou a se esboçar no final do século 19, com a revolução gráfica que Joseph Pulitzer pilotou no New York World, com uso despudorado de cores, introdução de ilustrações, charges e quadrinhos... Um espanto para os padrões da época, quando os jornais mais "avançados" não passavam de páginas recobertas de letras miúdas e textos empolados.

Codificação da informação
O século 20, este que se recusa a acabar, vai ficar registrado na História como a Era da Imagem. Ao mesmo tempo, ficará conhecido como a era da desconstrução da linguagem, o período em que se aprofundou o fosso entre a cultura livresca e a cultura da imagem. E tudo porque os dois fenômenos eclodiram basicamente no mesmo período de 20 anos – do final dos anos 50 até os anos 70, quando a TV assume a posição de principal veículo de comunicação (notícia e entretenimento), a partir de dois fatos emblemáticos – as imagens da chegada do homem à Lua e a cobertura da guerra do Vietnã. Ocorre que é também nessa época que a civilização cristã-ocidental sofre o seu maior impacto com a dinamitação das certezas, a derrubada dos tabus, a chegada da Era de Aquarius, os hippies, as drogas.


As drogas. Por causa delas, instalou-se definitivamente o império da fragmentação da linguagem, dando origem ao vídeo-clip. Seu formato viria a se transformar numa espécie de ícone da cultura contemporânea, como a querer demonstrar que a imagem detém absoluto controle da espaçonave. E a embriaguez que uma sucessão de imagens desconectadas de sentido imediato provoca prescinde da palavra, que só comparece como coadjuvante de guitarras e urros, para ajudar a marcar o ritmo do rock.


Ocorre que a premissa do chinezinho, de uma imagem valer mais que mil palavras, estava errada. Só que continuou norteando a produção da informação, inclusive no telejornalismo, porque é bem mais cômodo aceitar o princípio contido numa frase idiota do que questioná-lo. O erro do chinês foi assentar o raciocínio na falsa premissa segundo a qual já existe um código visual mais expressivo e formador de sentido do que o bom e velho léxico. E foi aí que o chinês "se estlepou e queblou a cala". Elaborou a frase antes do advento da televisão, extasiado e "sem palavras" diante de uma bela paisagem. Não sacou que a televisão seria inventada. E que não é vídeo + áudio, mas, sim, um híbrido que resulta do efeito psicológico produzido pela fusão do que se vê com o que se ouve. Daí porque não se dissocia, no telejornalismo, imagem de texto, sob pena de perder-se a compreensão da mensagem. Em outros produtos audiovisuais, como o cinema de ficção e a teledramaturgia, a separação é até possível. Chega a ser saudável, em certos casos. Mas aqui trabalha-se em busca de um efeito estético e não, como ocorre no telejornalismo, da codificação da informação com a finalidade de permitir decodificação direta, clara, objetiva e destinada a impedir mais de uma interpretação.


Palavra dá a volta por cima
Por isso, os realizadores de telejornalismo em todos os níveis precisam, cada vez mais, atentar para a importância de se cultivar o bom e velho texto. O avanço tecnológico, sobretudo a digitalização, coroou a Era da Imagem. Fotógrafos e cinegrafistas têm à sua disposição o mais rico arsenal de todos os tempos para brincar de provar a veracidade da frase daquele chinezinho. Talvez consigam quando se descobrir a comunicação telepática.


Tudo indica que a marca do milênio que se inicia será não mais a das grandes descobertas e avanços, mas de se ir vencendo o desafio de encontrar melhores aplicações para o que já existe. E, no caso do telejornalismo, resgatar o poder e o vigor de um dos maiores avanços do gênero humano em todos os tempos – a palavra, entre todos os códigos, com certeza o que ainda detém o maior poder de comunicação. Duvida? Então faça um teste: assista hoje ao noticiário com o volume da TV no zero. Amanhã, faça o contrário: corte a imagem e deixe só o som. Melhor ir correndo buscar o jornal para saber o que aconteceu ontem. Já hoje, só com o som (com as palavras), você pode até perder alguma coisa, mas no final vai ficar sabendo quase todo o conteúdo do que for apresentado no telejornal. É a palavra dando a volta por cima e dizendo quem continua mandando no terreiro.


Se alguém encontrar aquele chinezinho, avise-o, por favor, de que tem um cara aí querendo levar um lero com ele. Na boa.

*Por Paulo José Cunha é jornalista, apresenta o programa Comitê de Imprensa (TV Câmara) e é professor da UnB

sábado, 1 de março de 2008

A mentira tem pernas longas ou o judiciário que é confuso demais?


Por Henrique Silter

Publicado no Observatório de Imprensa

Para muitos o Judiciário é mesmo uma caixa preta. E como diz o jargão popular: “Da cabeça de um juiz e da bunda de neném pode sair qualquer coisa”.


Vários entendidos do sistema jurídico brasileiro devem ficar perplexos em alguns casos. Refiro-me, especificamente, da incongruência na suspensão de vários artigos da lei de imprensa e aplicação de algumas de suas penas.


No dia 21 passado, o Superior Tribunal Federal, na pessoa do ministro Carlos Ayres Britto, concedeu liminar onde suspendeu vários artigos da famigerada lei de imprensa, de 1967.


Entre os artigos suspensos estava o 20º, que diz respeito à calúnia, ato de imputar falsamente a alguém fato definido como crime.


Um dia depois da decisão do ministro Britto, a Vara das Execuções Criminais de Taubaté determinou a liberdade do reincidente jornalista José Diniz Júnior, 62 anos, (editor do tablóide Matéria-Prima, de Taubaté), que foi condenado a um ano e um mês de prisão, em regime semi-aberto, por ofender um advogado ao dizer que ele atendia as duas partes de um mesmo processo, conforme divulgou o site Comunique-se, no dia 29.


A liberdade do jornalista José Diniz Júnior foi argumentada sob a suspensão do artigo 20 da lei de imprensa. No entanto, o item suspenso havia sido subscrito com base no artigo 138 do Código Penal (CP), de 1940, que vigora até hoje.


No Código sobre condutas criminosas calúnia está tipificada assim: “caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime”. Ou seja, a mesma coisa prevista no artigo suspenso da Lei de Imprensa, só divergindo quanto às penas (até 2 anos de prisão no CP e até 3 no artigo suspenso) e o acréscimo de um parágrafo no CP que ressalta a observação de que caluniar mortos também é crime.


Os artigos sobre calúnia, injúria e difamação na Lei de Imprensa foram suspensos, mas o crime praticado pelo jornalista não; muito menos o Código Penal, que ainda tipifica esses crimes.


Contudo, há de se perguntar então: o fim da lei de imprensa concede liberdade demais? Pelo menos em tese não, pois esses atos ainda são crimes no Código Penal. Mas na prática...


Então por que o jornalista reincidente foi absorvido? De certo porque foi condenado pela lei de imprensa e não pelo artigo 138 do Código Penal. No entanto, o Código Penal está de longe acima da Lei de Imprensa, embora assim não tenha entendido a Vara das Execuções Criminais de Taubaté.


A dúvida quanto o valor jurídico de um código em detrimento de uma lei suscita uma confusão nas leis ou o judiciário que é confuso demais? “Qual será o segredo de tostines?”.


Permitida reprodução desde que citada a fonte Publico & Alternativo: A Hora e Vez