sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Quem faz a notícia no parlamento brasileiro

Por Silter

Não seria um exagero dizer que o Congresso Nacional é um verdadeiro big brother. Diariamente, mais de 200 jornalistas fazem a cobertura dos fatos na “casa” mais vigiada pelos noticiários de todo o País. No artigo Quem faz a notícia no parlamento brasileiro?, de Francisco Sant’Anna, o mestre em Comunicação busca traçar o perfil desses profissionais. Parte deles ou são contratados pela imprensa tradicional ou são do quadro de funcionários do Senado, cujos servidores foram denominados de mídias das fontes do Senado Federal (MFSF)).


Sant’Anna delimitou o perfil dos jornalistas sob diversos aspectos Suas rotinas profissionais, valores éticos e morais, culturalmente e socialmente e comparou com aqueles da imprensa tradicional.


Segundo Sant’ Anna, o perfil dos MFSF é parecido com o dos setoristas. Os dois têm em média cerca de 39 anos e mais de 17 anos de profissão, 80% são brancos e 58% casados.


Ideologicamente, também se assemelham. Os dois se classificam de esquerda (39%) e de centro esquerda (41%). Para tal medida, Sant’Anna utilizou uma escala de 1 a 10 “onde 1 é ‘extrema-esquerda’ e 10 equivale a ‘extrema-direita’”. Nesse quadro os MFSF obtiveram média de 3,37 e seus colegas 3,05. Cerca de 8% dos jornalistas do Senado revelaram ser filiados a partidos políticos, quanto que apenas 2% dos setoristas. De sindicalizados, 68% dos MF são, contra 58% de seus confrades.


No aspecto da religiosidade, a maioria dos MF é de formação católica (37%), seguida de (31%) de ateus e 15% de espíritas.


Etnicamente, na amostra, não foi identificado nenhum jornalista negro no Senado, sendo que na imprensa tradicional pelo menos 10% são negros. Já entre pardos, existe uma grande semelhança: 17% dos MF e 16% na imprensa. Sant’Anna afirma que a baixa quantidade de profissionais negros e pardos tanto no senado quanto na mídia tradicional se explica em função de que no Brasil é necessário diploma para o exercício profissional de jornalista para o exercício da função. “O ensino universitário é elitizado, e as minorias étnicas não tem acesso fácil aos bancos universitários”, compreende Sant’Anna.


A leitura de jornais de outros países não é uma praxe entre os jornalistas do Senado. Pelo menos 60% não mantém esse hábito. Já na mídia convencional, a situação é o inverso, 56% lêem com freqüência.


Em termos culturais, há uma preferência unânime por autores brasileiros. No que se refere ao estilo literário, os pesquisados disseram ter preferência por romances (35%), aventura e ficção (14%) e histórias épicas (14%). Livros técnicos e científicos não tiveram destaque. Quanto ao cinema, (26%) preferem o gênero drama, (10%) documentários e (10%) comédias. A cinematografia européia está em alta. Cerca de (33%) preferem filmes europeus, contra (18%) norte americano e (14%) brasileiro.


De acordo com o levantamento, os MF não apresentaram interesse na imprensa internacional, quando cerca de 60% revelaram não ler periodicamente jornais internacionais. Já na mídia tradicional, 56% disseram ler com freqüência.


Em termos éticos, Sant’Anna utilizou uma regra para mensurar quantitativamente as opiniões dos dois grupos. Flexível = 1; regular = 2; rígido = 3. Tanto um como o outro grupo concordou quanto à condenação de pagamento para obter informações de fontes. Também condenaram a dissimulação de identidade profissional (2,49) assim como se empregar numa empresa ou repartição pública para conseguir informações de forma clandestina (2,75). No entanto, o percentual de desaprovação entre os MF foi 12% maior do que os jornalistas tradicionais. Estes são mais favoráveis a se valerem de documentos e imagens sem autorização do que aqueles. Utilizar fotos e documentos íntimos também teve alto grau de rejeição (2,85).


Na conclusão de Sant’Anna, há semelhanças no padrão social entre os MF e jornalistas tradicionais. As diferenças se evidenciam quanto as questões de raça, apreço cultural e ideologia. Mais partidários, os MF estão submetidos a um padrão mais limitado de produção da notícia, já que não podem comentar o fato, mas sim resignar-se a narrar o acontecimento. Ao contrário dos setoristas, que têm mais liberdade para produzir.

Relacionamento Assessor/Assessorado: entre Tapas e Beijos

Por Silter

Na visão de Luciano Milhomem, autor do artigo Relacionamento Assessor/Assessorado: entre Tapas e Beijos, que compõe o livro Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia, de Jorge Duarte, “boa parte do êxito profissional, e portanto, da felicidade no trabalho depende da relação entre chefe e empregado”. Neste capítulo, Milhomem discorre sobre as relações entre o assessor, o assessorado e a principal matéria prima do jornalista, a informação.


Conforme Milhomem, todo o trabalho de uma assessoria de imprensa está baseado em três alicerces: o assessorado, a assessoria e o objeto, neste caso informação. Como o assessorado é o cliente, portanto o “chefe”, é ele, a princípio, que define “o que tem interesse ou não em divulgar na imprensa”.


Segundo a abordagem de Milhomem, dois aspectos são principais na relação entre assessor e seu cliente. O primeiro aspecto trata dos objetivos do cliente e suas necessidades no campo social e profissional. O segundo aspecto consiste nos interesses da instituição. Para Milhomem, o grande desafio do assessor de imprensa é saber equacionar o interesse do assessorado, bem como trabalhar a imagem da instituição.


De acordo com Milhomem, o assessor precisa equilibrar corretamente os pesos, pois do contrário, ficará parecendo que um pretende se sobrepor ao outro, ou vice-versa. Por exemplo, conforme a lógica de Milhomem, se uma instituição vai bem, há méritos portanto do seu presidente. Daí é preciso enaltecer os resultados, contrapondo as atitudes de liderança que levaram a tais conseqüências.


Todavia, privilegiar “as ações da instituição pode ser um risco se quem a dirigir tiver, por exemplo, ambições pessoais muito elevadas ou, simplesmente, personalidade egocêntrica”. Por outro lado, “um assessor que só tiver olhos para os interesses do dirigente e esquecer-se da importância da instituição” pode incorrer também em um erro de equilíbrio.


No fim das contas, o esforço da assessoria de imprensa é buscar cultivar a boa imagem da instituição junto à opinião pública, tanto quanto procurar manter uma imagem positiva da direção da empresa, mediante essa mesma opinião pública e também aos funcionários.


Para tanto, o dirigente também tem que suar a camisa, pois existem centenas de instituições e dirigentes bastante competentes. Não basta ter uma assessoria excelente se o assessorado não se esforça para que a sua imagem e da instituição seja abordada positivamente nos meios de comunicação, pois não basta que o assessorado seja presidente de uma grande multinacional para que ele se torne uma fonte. Potencialmente é, mas isso não significa que será de fato, pois existem diversos outros presidentes de multinacionais. E é preciso lembrar que a mídia tem critérios de escolha para eleger quem e o que será notícia.

Milhomem afirma que para tornar o assessorado uma boa fonte é preciso que haja um diferencial para que o trabalho do assessorado bem como e a instituição seja repercutido. Dessa forma o autor provoca: “O que torna esse diretor de multinacional mais importante que os outros?”. Para tanto, ele lista uma série de atributos que um assessorado de destaque tem que ter: idéias originais – que suscitem discussão, debate e reação por parte dos leitores, que o tema tenha um “gancho” com fatos atuais, que a empresa tenha bons resultados para apresentar e assim despertar o interesse que quem irá lê a matéria.