sábado, 24 de maio de 2008

Diversas opiniões sobre opinião pública

Por Silter

De acordo com o artigo Contribuições para o conceito de opinião pública de Rubens Figueiredo e Sílvia Cervellini, pode-se dizer que não há um conceito único para opinião publica. Os próprios autores chamam atenção para a “inexistência de uma conceituação” que seja passível de ser aceita pelas várias ciências cujas interdisciplinaridades sobre o tema sejam convergente.

Em todo caso, vários autores se embrenharam nessa temática com o propósito de buscar uma maneira de objetivar um conceito sobre opinião pública. Um dos pioneiros sobre o assunto foi estadunidense Walter Pillman. Segundo o autor, o mundo é bastante complexo para que cada indivíduo, sozinho, possa aprendê-lo individualmente; e quando uma pessoa forma uma opinião sobre um assunto ela conta com informações produzidas por outros indivíduos ou meios de comunicação. Para Pillma, nunca uma experiência individual produz uma opinião com exclusividade.

Já o teórico Manin propõe que uma opinião pública deve levar em conta a pluralidade. Nessa teoria, não existe apenas uma opinião pública, mas sim várias. Dessa forma, as opiniões públicas se manifestam por meio dos meios de comunicação, dos grupos organizados, de pesquisas, reuniões sociais e em tantas outras formas em que pessoas possam se organizar para discutir sobre diversos temas.

Contudo, Manin chama atenção para um aspecto importante da opinião pública. Conforme explicação de Manin sobre Habermas (teórico de vertentes do final do século XVIII e começo do século XIX), as pesquisas de opinião medem “opiniões comuns” e não “opinião pública”. Habermas justifica que as proposições sobre opinião pública da atualidade se desvirtuaram das propostas construídas naquela época. No período que vai desde a Revolução Francesa as invasões Napoleônicas, a opinião pública era encarada como base de legitimação da democracia. Como fundamento, usavam-se métodos de deliberação racional que resultassem no interesse geral.

Habermas acha que a opinião pública na atualidade vive uma deterioração produzida pelos meios de comunicação, com base em um debate racional entre os cidadãos. Para tanto, conforme Habermas mencionado pelos articulistas, a razão para a Escola de Frankfurt deve ser o caminho da utopia emancipadora e só existe ao lado de uma “discussão pública, que não sofre restrições e que isenta de dominação, sobre a adequação e a conveniência de princípios e normas que orientem o agir à luz dos reflexos sócio-culturais... uma comunicação dessa espécie, em todos os níveis dos processos políticos e repolitizados de formação da vontade”.

As teorias propostas por Pierre Bordieu são bem mais incisivas. Para ele a opinião pública simplesmente não existe. Suas contestações se apóiam sobre três argumentos: a) os pesquisadores partem de uma premissa equivocada de que a opinião pública esteja ao alcance de qualquer indivíduo; b) o falso pressuposto de que as opiniões têm o mesmo valor; e c) Bordieu não acredita que os temas pesquisados sejam do interesso de todos e assim há, segundo o autor, uma imposição do pesquisador sobre temas que este considera importante, sem se basear no real consenso sobre o assunto.

Para tanto, em 1965, Harwood L. Childs fez uma análise sobre oito definições históricas de opinião pública e concluiu que todas se equivocavam, já que limitavam o sentido da expressão. Ao tentar solucionar a questão, Childs definiu opinião pública como “coleção de quaisquer opiniões individuais”. No entanto, a definição foi tão genérica e abrangente que aquilo proposto como a uma solução se tornou um novo problema, pois a definição não definia nada.

Um outro teórico criou um conceito bem mais realista. Para Lippmann, os cidadãos em geral não necessariamente precisam ser bem informados e interessados em temas com certo grau de complexidade. Eles não necessitam tratar de todos ou pelo menos muitos dos temas da vida pública assim como tratam de assuntos pessoais, pois existem instituições especializadas para tal atividade.

Por fim, dois aspectos mencionados pelos articulistas merecem destaque. A definição de opinião pública deve também pressupor um sujeito e um objeto específico. Quanto ao sujeito, a opinião pública deve corresponder a um grupo de pessoas com características em comum, seja da elite ou da massa, se são informados ou não, ou se a manifestação é racional ou emocional. Nesse aspecto, mesmo as opiniões das minorias devem ser levadas em conta como manifestação da opinião pública. Quanto ao objeto, o tema proposto deve ser relevante o suficiente para propor um debate público para que os participantes se posicionem a respeito daquilo que está sendo debatido.

Nenhum comentário: