domingo, 23 de setembro de 2007

A mídia está virando partido político?

"Esses jornais e revistas sempre defenderam a mesma ideologia; sempre defenderam os interesses do mesmo patrão. O que aconteceu foi que os outros jornais, que defendiam outras ideologias e os interesses de outros patrões – os leitores – é que desapareceram",


por
M. Pacheco*

Primeiro, é necessário lembrar que houve um tempo – antes da ditadura – em que havia tantos jornais quantas ideologias existissem.

Na minha juventude, eu podia escolher entre Última Hora e Tribuna da Imprensa. E quase sempre comprava os dois porque precisava saber o que o “outro lado” estava dizendo. Mas havia dezenas de grandes jornais que atendiam aos gostos de todos os leitores – e eleitores, evidentemente.

E sabe por quê?

Simplesmente porque os jornais não dependiam de ninguém – além dos leitores – para se manter.

Havia, sim, os que faturavam com a publicidade. Os matutinos que publicavam anúncios classificados. E esses - via de regra - eram chamados de conservadores, apesar de defenderem as idéias chamadas “liberais” da economia.

A televisão, que já havia nascido, ainda não tinha o poder de mudar a cabeça dos telespectadores. Aliás, nem precisava, porque quem tinha um aparelho de Tv, era da classe média e média alta, e já pensava – e consumia – tudo o que os que “financiavam” seus sonhos produziam.

Um pouco antes, era o cinema de Hollywood, que determinava os caminhos que a classe que consumia, deveria seguir.

Mas voltemos aos jornais que “viraram partido político”.

Pensando bem, não aconteceu o que eu e outros jornalistas estamos dizendo. Os jornais O Globo, Estadão, Folha, etc., e as revistas Veja, Época, etc. não se “transformaram” em Partido Político, simplesmente porque sempre foram. Esses jornais e revistas sempre defenderam a mesma ideologia; sempre defenderam os interesses do mesmo patrão. O que aconteceu foi que os outros jornais, que defendiam outras ideologias e os interesses de outros patrões – os leitores – é que desapareceram.

E sabe quando?

Exatamente quando esses jornais e as emissoras de televisão começaram a crescer no Brasil.

Quando a chamada ditadura militar – que eu chamo de ditadura dos tecnocratas e ditadura liberal – começou a perseguir os jornais e jornalistas que faziam oposição, mostrando o que – realmente – acontecia no Brasil.

A perseguição era tanta que até mesmo jornais “conservadores” que ajudaram a divulgar as idéias “revolucionárias” da direita, também foram fechados – como o Correio da Manhã, no Rio de Janeiro – que teve a coragem de criticar os rumos que a ditadura estava tomando.

Depois disso, veio a era das verbas oficiais, pelas quais os jornais e emissoras de rádio e televisão se vendem, como se vendem aos próprios anunciantes, não especificamente a este ou aquele, mas ao sistema que os mantém funcionando que é o da “economia de mercado”, da “livre” concorrência e “livre” iniciativa; da “propriedade privada dos meios de produção” e, principalmente da “liberdade de expressão” e de “opinião”, desde que essa expressão e essa opinião não seja emitida contra os ideais capitalistas já referidos neste parágrafo.

O que se convencionou chamar de Partido da Mídia, eu diria até Partido Único, porque não existe quem defenda as outras idéias. Apenas os “Ideais Capitalistas”.

Para se ter uma idéia do quanto esse partido único está forte, basta ler o que o jornal O Globo vem publicando sobre um livro didático que está sendo distribuído nas escolas públicas, onde o autor caiu em desgraça, porque decidiu expor os dois lados da história, para que nossa juventude não seja levada a pensar que só existe um lado.

*M. Pacheco é Jornalista Independente do blog Quem se omite, permite!

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