domingo, 7 de outubro de 2007

Quarenta anos depois, Veja faz guerra ideológica com a história de Che


por Henrik Silter


Artigo publicado no Observatório da Imprensa e comentado 36 vezes


Não sou leitor da revista Veja, nem faço questão de ser. Gostaria de deixar isso claro. Mas fiquei curioso em ver o que poderia ter ali naquelas páginas para comprometer o revolucionário Guevara Lynch de la Serra (vulgo Che), quarenta anos depois de sua morte – a serem completados nesta 2ª semana de outubro.

Realmente fiquei curioso em saber que revelações a revista traria a respeito de um sujeito que poderia ter vivido uma boa vida na Argentina, “num ambiente cultural razoavelmente requintado”, como escreveu o sociólogo Eder Sader, mas que renunciou a tudo isso e preferiu viver em prol de causas sociais e lutas por ideais de justiça. De fato queria saber que máculas eram essas que colocariam à tona a “Farsa do Herói”.

Depois de foliar a revista por alguns minutos percebi que em poucas linhas de ódio e rancor a edição apenas delineava acusações de cunho puramente ideológico. O propósito de Veja é tentar conter a crescente simpatia que a juventude nutre pelo “ser humano mais completo de nossa era”, como definiu um dos maiores escritores do século XX, Jean Paul Sarte.

Com exceção da entrevista de um dos algozes de Che, Félix Rodrigues – ex-soldado cubano que se tornou general estadunidense e foi enviado pela CIA à Bolívia para ajudar a assassinar Guevara –, não havia nada de novo.

É uma pena Guevara não estar vivo para processar a revista por calúnia e difamação.

Fiquei pensando em me atrever a escrever alguma coisa em nome de Che para responder as infâmias produzidas na edição da semana passada.

Por alguns momentos pensava que era melhor não. “É perda de tempo”, resignava-me. Como conclusão cheguei a pensar que a revista é escrita para um público de classe alta e média boboca, que tem tudo do bom o do melhor e vive reclamando pateticamente da vida e dos pobres.

Jogada no chão do quarto uma semana depois, a capa da edição me chamou a atenção e acabei revendo-a. Fiquei olhando com certa indiferença o exemplar até que me apontou no trapézio alguns pensamentos.

Imediatamente me surgiu na cabeça o cunho ideológico da revista. Depois veio a tamanha falta de credibilidade que a revista tem em função de sua parcialidade descarada.

Nem mesmos os senadores e deputados da esfacelada direita usam a revista como parâmetro para fazer barulho com o denuncismo da revista Veja. Somente a turma do falido Cansei, ainda levanta a voz pra dizer bobagens do tipo: “Isso é verdade, eu vi na Veja”.

Mas ao revê-la hoje, percebi de imediato que o texto traz um erro logo nas primeiras linhas. A revista deixa a entender que Che Guevara havia morrido no dia 8 de outubro de 1967. O que não é verdade. Che foi assassinado um dia depois.

Olhe o que a revista escreveu sobre o depoimento de um dos algozes de Che, Félix Rodrigues. Num cinismo descarado, o algoz diz a respeito do assassinato de Guevara:

- As instruções que recebi dos Estados Unidos eram para poupar sua vida (...) A ordem para sua execução veio por rádio, de uma alta autoridade boliviana. Era uma mensagem em código: “500”, “600”. O primeiro número, 500, significava Guevara. O segundo, que ele deveria ser morto. Tentei em vão convencer os militares bolivianos a permitir que ele fosse levado para ser interrogado no Panamá. Eles negaram meu pedido e me deram um prazo. Eu deveria entregar o corpo de Guevara até as 2 horas da tarde. Perto das 11h30, uma senhora aproximou-se de mim e perguntou quando iríamos matá-lo, pois ouvira no rádio que Che havia morrido em combate. Naquele momento compreendi que a decisão de executá-lo era irrevogável. (Disse o algoz ao repórter da revista, Duda Teixeira).

Pouco mais de uma hora e meia depois do anúncio da tal senhora, Che seria assassinado com tiros na cabeça, no tórax e pernas. Segundo o algoz Rodriguez, Guevara foi executado sumariamente às 13h10, no fatídico 9 de outubro de 1967.


Permitida reprodução desde que citada a fonte Mídia Alternativa: A Hora e Vez

2 comentários:

Unknown disse...

Bem, compartilho do sentimento do autor. Eu tambem me indignei, até chorei. Não coloquei minha mão na revista. Não a comprei. Não a li.

Desde os 17 anos sou guevarista. Tenho o Che como exemplo, "o homem que não aprendeu a mentir", como disse Fidel para Aleida.

É verdade. O che assuta . A juventude conhece sua história e busca nele referencias. Che é o nosso grande herói latinoamericano.

Viva Che, siempre Che!

adriana de carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.