Por Henrique Silter
Há poucos dias estava eu na fila de um supermercado em Brasília para pagar as compras. Na minha frente havia um casal que também iria fazer a mesma coisa, pagar os dividendos de consumo. Na fila ao lado tinha uma senhora de uns 50 e poucos anos que surpreendeu o casal com a seguinte pergunta: "Quem é que vai tomar esse refrigerante?", apontou a senhora para o produto que se encontrava no carrinho do casal. "Sou eu mesma", disse a mulher.
A senhora então retrucou:
- Se eu fosse você não faria isso não...
- Mas por quê?
- Hoje recebi um e-mail que acusa essa marca de causar câncer no intestino de quem tá consumindo esse refrigerante. Disse a senhora.
- Sério? Respendeu admirada a mulher e depois ficou murmurrando algumas coisas com o marido.
- Sério mesmo! Se você quiser eu te passo o e-mail. Disse a senhora já pegando a agenda para anotar o e-mail da outra, que aceitou a gentileza. No entanto, o casal não deu muita importância e levou as duas latinhas de refrigerante para casa.
No momento em que anotava o e-mail da outra pedi para receber a mensagem também. Dois dias depois recebi o e-mail que trazia no cabeçalho a mensagem: “Que deus te abençoe rica e abundantemente!”
Com um título sensacionalista, o texto chamava atenção para um “Alerta Geral”.
- Não beba esse refrigerante. A propaganda parou... Por quê? Reparem... a propaganda quase não se vê mais na mídia.... Por que será?
Segundo o e-mail, o motivo para não tomar o refrigerante é pelo seguinte:
- Fato já está confirmado, vinte e três pessoas já passaram pelo Hospital das Clínicas com um mesmo sintoma: falta de atividade renal e o aparecimento de tumores no reto.
E justificativas "científicas" não faltavam.
- Pesquisas realizadas pelo renomado Instituto Fleury, apontaram grande quantidade de Fenofinol, almeido e Voliteral, substâncias tóxicas e que causam, respectivamente, a má atividade dos rins e câncer. Segundo Dr.Paulo José Teixeira, formado pela USP e Especialista em Toxicologia, as pessoas não devem ingerir mais o citado refrigerante.
Ao concluir, a mensagem informava que a empresa que fabrica o refrigerante havia assumido a culpa e se comprometido a indenizar todos que sofreram algum dano.
Por fim, no final do e-mail, ainda havia aquela velho pedido de repassar a mensagem ao maior número de pessoas e blá, blá, blá. Assinado Monique Freitas, que não era a senhora com mais de 50.
Havia alguns telefones na mensagem, um deles com ramal, do instituto especializado em cirurgias no coração. “Mas não causa é câncer no reto?”, pensei na hora. “Ops! De coração para cu tem muita diferença”.
Disquei para um dos números e não consegui completar a ligação. Liguei para outro, mas também não deu certo. Procurei o site na internet e encontrei um outro telefone do instituto. Disquei novamente e depois de uns toques caiu na secretária eletrônica. "Sobre não sei o que disque 1. Para sei lá disque 2. Para falar não sei aonde disque 3 (...) Para voltar ao menu inicial disque 9". Perdi a paciência e fui procurar pelo tal médico da USP na Internet.
Quando coloquei o tal nome do doutor no site de busca, numa pesquisa simples que apareceu logo em cima, a primeira surpresa: a história nada mais era do que uma das muitas lendas da Internet. Daí então vi que havia uma certa “briga” entre as marcas de refrigerante. O conteúdo das mensagens era sempre o mesmo e mudava apenas o nome do refri.
Não tenho pretenção de fazer propaganda pra marca A, B, ou C. Nem gosto muito de refrigerantes. Só achei imprudente o repasse da mentira. Para acabar com o mal entendido respondi o e-mail para a senhora que havia me encaminhado.
- Cara fulana, meu nome é tal e sou jornalista. Sou a pessoa que a senhora enviou o e-mail do refri... Isso se trata de um grande engano...
No dia seguinte, quando me respondeu o e-mail, tive a 2ª surpresa:
- Desculpe-me por ter passado à fente uma mensagem sem antes pesquisar à respeito. Que Mico! E o mico é grande mesmo, pois, pasme! Eu também sou jornalista, há 25 anos. Que vexame! Agora é torcer para você não vir a ser o meu próximo chefe... Pretendo apenas procurar policiar-me, cada vez mais, da tentação de passar adiante qualquer e-mail que me chega, e, mais que isso, passar a informaçao boca-a-boca sem tê-la checado devidamente, o que a minha rotina diária, infelizmente não permite.
- Daí então fiquei matutando... “Os jornalistas estão preguiçosos ou realmente muito ocupados?”.
Na verdade, a única coisa boa nessa história toda é que no final do e-mail havia uma frase de Cora Coralina que despertara para uma certa beleza filosófica. “Feliz daquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Se bem que em se tratando de tal confusão é necessária uma nova pesquisa para poder afirmar com certeza que o enunciado seja de fato da poetiza goiana.
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